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ONG criada por engenheira reforma residências no Estado – Tribuna do Norte

Felipe Salustino

Repórter

“Uma vez, quando criança, levei uma amiguinha para me visitar e ela comentou: ‘nossa, sua casa cheira mal’”. O episódio, narrado pela engenheira Fernanda Silmara, presidente da ONG ReforAmar, faz parte de uma fase da vida onde ela e a família moravam em uma casa de taipa e tijolo branco, no bairro do Alecrim. O imóvel estava em condições precárias. Colchões e roupas, molhados pela chuva que escapava do teto em forma de goteiras, tinham cheiro de mofo. As experiências, um tanto quando desagradáveis, viraram motivação e, hoje, Fernanda reforma, por meio da ONG, lares de pessoas carentes e instituições em Natal. 

Inspiração para fundar a ONG ReforAmar é baseada na experiência pessoal da engenheira Fernanda Silmara. Quando criança, ela sofreu com as más condições da sua casa

A  ReforAmar, que nasceu em julho de 2018, contabiliza 500 pedidos para a reestruturação e reforma de lares espalhados pelo Estado. Para levar o projeto adiante, a ONG conta com cerca de 300 voluntários – gente que preside, administra, comunica e põe a mão na massa (literalmente) – para levar dignidade a quem precisa. Os voluntários internos são em torno de 25 (atuam na parte de planejamento). “Até o momento, nós realizamos 15 reformas, divididas em 12 casas e três instituições”, relata a engenheira, de 25 anos.

As situações vividas por Fernanda durante a infância e a adolescência em uma casa sem estrutura, traziam, junto com o constrangimento, a apreensão de que algo grave pudesse acontecer. “Eu tinha muito medo da chuva, porque o telhado estava basicamente caindo”, relata. O pai de Fernanda era quem tentava fazer alguns reparos, mas que acabavam não ajudando muito. “A gente não tinha condições de reformar a casa. Meu pai ajustava num determinado lugar, aí aparecia um buraco em outro. Quando chovia, tinha sempre goteiras pela casa. Colchões e roupas ficavam molhados, com cheiro de mofo”, conta.

Fernanda, que é filha de uma dona de casa e de um padeiro, afirma que, com a separação dos pais, a situação ficou ainda mais crítica, porque não havia quem fizesse as manutenções no imóvel. “Eu não chamava ninguém para me visitar. Eu sei que, quando minha amiga falou do cheiro lá de casa, não foi por maldade, porque ela era uma criança. Mas aquilo me paralisou. Então, fui crescendo sem convidar os amigos para ir a minha casa”, admite a engenheira. 

A situação começou a mudar durante a adolescência. Fernanda conta que o tio notou que ela não costumava receber visitas de amigos e se ofereceu para reformar a casa onde a sobrinha vivia. À época, a então adolescente cursava o Ensino Médio no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). Todo o material foi comprado com o dinheiro de uma bolsa que Fernanda tinha no Instituto (cerca de R$ 350).

A reforma durou cerca de quatro anos e, praticamente, toda a casa foi reconstruída. Na etapa final dos serviços, Fernanda já cursava engenharia civil em uma universidade particular de Natal e costumava aplicar na obra aquilo que aprendia na faculdade. Concomitante à graduação, Fernanda também cursava Construção de Edifícios (Tecnólogo), no IFRN. Uma rotina árdua, mas que ela faz valer a pena até os dias de hoje.

Atualmente, nem a engenheira nem a família vivem na casa que é cenário de tantas lembranças e que serviu de pontapé para o projeto do qual ela tanto se orgulha. “Quando chego na casa de alguém contemplado pela ReforAmar, eu digo que o resultado [das reformas] é o nosso pagamento, porque é muito transformador saber que estamos mudando vidas. Fazer o bem é algo que não tem preço”, sublinha.

ONG precisa de doações para continuar

Depois de reformar 15 lares em quase quatro anos, Fernanda Silmara afirma que uma das certezas que carrega é: a ReforAmar precisa de vida longa. O projeto conta também com outras ações, como a entrega de cestas básicas. É uma forma de conhecer os futuros contemplados e também de manter os laços com aqueles que já foram atendidos pelo trabalho da ONG.

Daniel Sales, de 26 anos, foi um dos primeiros atendidos pelo projeto ReforArmar em 2019

Um desse laços, aliás, começou bem antes do projeto e se mantém até hoje. O vendedor Daniel Sales, de 26 anos, conheceu Fernanda há pouco mais de uma década, quando os dois realizavam trabalho voluntário em hospitais de Natal. O vendedor, morador do Alecrim, foi um dos primeiros a ser atendido pelo projeto, em 2019. “Moro aqui desde que nasci, com minha mãe e meu irmão. A gente não tinha dinheiro para fazer uma reforma. A casa estava deteriorada, com o teto quase caindo”, relata Daniel.

De casa nova, o vendedor decidiu entrar para o projeto. Ele é um dos 300 voluntários da ONG. “Minha função é colocar a mão na massa mesmo. Derrubo paredes, faço pinturas… o projeto foi uma experiência muito boa para mim e é também para aqueles que precisam”, comenta ele, em forma de apelo.

Fernanda faz coro ao amigo. “Nosso trabalho precisa continuar. Não se trata apenas de uma casa bonita, mas de um lar digno, com conforto. E isso muda muita coisa”, pontua. “Espero conseguir mais parceiros para nos ajudar”, complementa a engenheira em seguida.

As doações, segundo Fernanda, vêm de pessoas que abraçam o projeto, mas empresas também podem ajudar. A captação de recursos representa uma limitação para a atuação da ONG, que trabalha  com doações. Por isso, quem quiser ajudar, pode fazê-lo via pix (e-mail: [email protected]) e por cartão de crédito (banco: 323 Mercado pago – conta corrente 4119089960-5 agência: 0001 CNPJ: 41.282.105/0001-68 ). 

Móveis também são aceitos. Eles são doados às famílias contempladas. Mais informações, podem ser obtidas no Instagram da ONG e também pelo WhatsApp: (84) 9 8820-2018. “Estamos sempre recebendo doações, que podem ser de qualquer valor”, afirma Fernanda.

Emoção ao ver a própria casa transformada

Fernanda Silmara é a caçula de cinco irmãs, e, além disso, ela tem também um irmão, o mais novo de um total de seis filhos. A engenheira é a primeira da família a se formar. A graduação, na avaliação dela, é o motivo da grande transformação pela qual passou a família. Aliás, foi durante o curso de Construção de Edifícios que nasceu a ONG ReforAmar, depois de muita persistência da engenheira.

“Meus pais têm apenas o Ensino Fundamental. O fato de nós, os filhos, termos chegado ao Ensino Médio, para eles, já era algo maravilhoso. Quando eu entrei na faculdade, foi um grande passo, um momento transformador. Sou a primeira da família a se formar. Sou uma engenheira civil”, detalha Fernanda, orgulhosa de si. 

E foi durante essa trajetória que a engenheira chegou um dia em casa e se emocionou com o que viu. “Eu estava no segundo ano da faculdade. Cheguei, minha casa estava toda com cerâmica e o telhado, novinho, sem risco de desabar. Não havia fiação elétrica exposta. Isso significou muito, porque nunca tive uma casa com cerâmica. Sei que parece bobo, porque para muita gente é algo banal…”, descreve Fernanda ao mencionar, emocionada, o que sentiu.

Na ocasião, a então estudante de Engenharia decidiu ajudar a quem vive situações semelhantes às que ela passou. “Naquele momento, eu me senti num lar. Aquilo mexeu muito comigo, então, eu percebi que podia fazer mais. Foi aí que surgiu a necessidade de multiplicar aquela ação, porque existem pessoas que passam por situações iguais a minha”.

Determinada, Fernanda levou a ideia da ONG para a faculdade, mas esbarrou na resistência de colegas e professores. O projeto demandava muitos custos, afinal, reformar casas não é nada barato. “Fui conversando com algumas pessoas, até que encontrei quatro amigos que toparam a ideia. Me lembro que apresentei o projeto para eles lá no IFRN, em um PowerPoint”, detalha. A partir daí, o projeto não parou mais.

“O intuito maior da ONG é entregar um lar. Não adianta chamar um arquiteto, fazer uma  casa que, na nossa opinião, é maravilhosa, se ela não vai agradar ao contemplado. Então, tudo é feito lado a lado com as pessoas”, explica Fernanda.

De acordo com ela, a meta é reformar, no mínimo, cinco lares em 2022. A expectativa é que o anúncio com as famílias selecionadas aconteça na próxima semana e a intenção é realizar ações também no interior do Estado. Os critérios para seleção são o seguintes: primeiro, os voluntários buscam conhecer a situação real das famílias. “Nós fazemos esse reconhecimento porque tem gente que prefere estar numa casa insalubre para, assim, comprar um carro, por exemplo”, esclarece a engenheira.  

Após isso, a ONG avalia se orçamento para a reforma de um determinado imóvel é viável. Também são analisadas situações de pessoas em vulnerabilidade. Famílias com crianças, idosos,  LGBTQIA+, são priorizadas. Fernanda afirma que os pedidos de ajuda são feitos pelo Instagram da ReforAmar (@reforamar_). “As pessoas podem indicar o próprio lar ou o lar de outra pessoa para reforma. A gente pede informações como foto, endereço e história que envolve a situação da casa. Tudo isso é feito por meio de um formulário”, diz a presidente da ONG. 

Serviço

ONG ReforAmar

Doações: Pix (e-mail: [email protected]) e cartão de crédito (banco: 323 Mercado pago – conta corrente 4119089960-5 agência: 0001 CNPJ: 41.282.105/0001-68 )

Informações: Instagram (@reforamar_), WhatsApp   (84 9 8820-2018) e e-mail (reforamar.org.br)

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